SORRISO AMARELO BRONZE

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Todo ano de olimpíadas é a mesma coisa: favoritos perdem, desconhecidos brilham, o acaso favorece alguns e derruba outros e há ainda o natural revesamento na ponta entre atletas do mesmo nível técnico. Salvo alguns fora de série, gênios da raça, que estão tecnicamente muito superiores aos demais, não é vergonha nenhuma você perder uma ou outra luta, partida, prova. Claro que é pior quando você perde a mais importante de um ciclo, que é a que valeria a luta por uma medalha olímpica.
Quando se é uma potência olímpica, uma perda dessas não gera quase ou nenhum constrangimento. Mas quando se é um nanico olímpico, ou um médio, como o Brasil, qualquer perda é como se fosse um desastre.
Sempre haverá frustrações nas olimpíadas e isso não é exclusividade do Brasil. Então não é possível diminuir ou acabar com esse sentimento que nos atormenta a cada ano bissexto? É possível diminuir a frustração geral, causada pelo fato de termos mais derrotas que vitórias nos jogos. Como? Todo mundo já sabe a resposta há muito tempo, mas entre saber o que fazer e fazer o que sabe existe um abismo enorme.
Apesar de toda a importância que damos ao esporte de alto rendimento, as soluções definitivas passam longe do foco que o governo anunciou recentemente em Londres: distribuir dinheiro ao COB. O COB não vai massificar o esporte no Brasil, não vai investir na base, não vai dar um tostão para as escolas, não vai aumentar o número de competições e, principalmente, não vai incentivar as competições municipais e intermunicipais em nível escolar e universitário. Caberá uma avaliação séria sobre o modelo brasileiro, onde os atletas são formados em clubes e não nas escolas. Além disso, o esporte deve ser incentivado entre todos os brasileiros, por motivo de saúde, ocupação, convívio social e educacional e não apenas para a formação de atletas.  O melhor cenário seria os governos investindo na base, deixando que os clubes e patrocinadores individuais mantenham o esporte de alto rendimento.
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Voltando ao ponto inicial, os "fracassos" do Brasil nesses jogos olímpicos, entre eles os de  Cielo e Murer, não são incomuns, muito pelo contrário, mas parecem ser mais corriqueiros para nós que para o resto do mundo, mas não é. O que é maior para nós, é a proporção que esses acontecimentos tomam.
Cielo não era favorito em Pequim. Ele tinha 21 anos, mesma idade que tem hoje o francês Florent Manaudou, que o venceu agora. Então podemos dizer que, em 2008, foi um fracasso do também Francês Alain Bernard, então recordista mundial, favorito na época. Mas ninguém crucificou Bernard.
Há inúmeros exemplos de favoritos que não conseguiram confirmar os prognósticos em olimpíadas, como Sergei Bubka, Javier Sotomayor, liu xiang, Isinbayeva, entre outros...
Quanto menor a duração de uma prova, menos previsível é o seu resultado. Em esportes coletivos, de forma análoga, quanto maior o placar, menos o improvável acontece. O futebol talvez seja o que permite score mais baixo, incluindo o placar "zerado", por isso é alardeado como sendo o que permite mais zebras. Então era para estarmos preparados para surpresas em outros esportes e, com isso, criarmos menos expectativas do que estamos criando, afinal somos o país do futebol, ou não.
Por que nos iludimos então? Alguns dirão que isso deve-se a perda tardia de um complexo de vira lata que virou recalque, a um complexo de superioridade infantil e ufanista ou a uma necessidade de autoafirmação de um povo sofrido e pouco educado. Não estou aqui para descartar esses possíveis fatores, mas trago três motivos mais relevantes na construção desse imaginário:

  • A cobertura jornalística excessivamente nacionalista, 
  • O desconhecimento dos aspectos técnicos das diversas modalidades e 
  • A total ignorância dos adversários.
Como resolver? Simples (em tese):

  • Democratização da mídia, valorizando os profissionais mais competentes e colocando a audiência como um fator secundário,
  • Aumento do número de modalidades praticados nas escolas, valorizando-se modalidades individuais e
  • Capacitação de treinadores, principalmente em cursos de especialização para os atuais professores de educação física das escolas.
E tenho dito.


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